Monday, March 05, 2007

Aqui em casa tá tudo confuso.
E com quase frieza - na verdade, não ser mais do que racional -, conversamos sobre terrenos.
Terrenos de cemitério.

Meu vô completou, por esses dias, 87 anos.
Minha vó faz 80 em novembro.

Eu não sei o que eu sinto. Não sei se eu estou anestesiada e vejo tudo passar. Ou se eu resolvi encarar os fatos e perder o medo. Ou se eu ainda tenho esperanças de que nada de grave vai acontecer, por isso a falta de desespero.

Minha tia corre de um lado pro outro, feito louca, gritando e não deixando meus avós levantarem pra pegar um copo d'água. Pra mim, é exagero. Não acho que eles estejam tão debilitados a esse ponto. "É cuidado demais, ninguém aqui tá morrendo" - eu disse. Mas hoje de manhã minha vó voltou a ter dores no braço. "Pode ser um outro enfarte" - minha mãe disse. E minha tia se desespera, como se ela pudesse controlar a vida deles, e o corpo deles, agora já tão frágil.

Eu fico aqui, sem saber direito o que pensar e o que fazer.
Me vem uma vontade de chorar, mas não, ainda tem muita coisa pra acontecer, ainda bem que ela avisou logo que ela sentia dores.

Ontem, meu vô foi pro pronto socorro, dizem que ele tem labirintite, mas cá entre nós, uma pessoa que tem 3 pontes de safena a quase 20 anos e hoje usa marcapasso - já é hora de fazer os exames de rotina e carregar o marcapasso - labirintite é que não vai ter.
Eu vi. A pressão dele caiu. Ele suou frio. Ele ficou amarelo. Ele bateu na cabeça dizendo que tava com tontura. Isso não é labirintite.

E agora? Faço o que? Ainda que eu não queira, é a vida. E, por mais que eu tente aceitar o fato - ou os fatos - eu ainda quero segurar eles por mais um tempo.
Um egoísmo descarado e covarde.

Sinceramente, eu não tenho planos pra viver tanto assim não. Eles não podem comer nada com sal nem com gordura, nem nada doce demais. E se fosse eu, e tendo já netos grandes, comeria tudo o que tivesse vontade, faria tudo o que eu quisesse, e me deixaria morrer. E isso também é egoísmo, certo?

Avós são bons. Eles têm uma ternura, um modo de olhar, e um orgulho tão grande.

Se eles forem, quem vai sentir isso por mim?

1 Comments:

Blogger Theodora said...

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5:03 PM  

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